"The root of suffering is attachment."
Buddha
Vou começar por abordar este tema com um pequeno excerto de um livro que li intitulado: A Equação da Felicidade de Mo Gawdat:
"A cultura popular árabe conta a história de um velho professor que é visitado por muitos dos seu estudantes, anos após terem deixado as suas aulas. Contavam-lhe como tinham alcançado o sucesso na vida e mostravam gratidão para com o seu querido mestre. Depois, começavam todos a falar sobre as pressões que enfrentavam e do stresse que os afetava para conseguirem ir ao encontro das expectativas. O sucesso não os tornava mais felizes.
O professor levanta-se para preparar um grande bule de café, regressando com um tabuleiro com uma variedade de taças.
Umas eram de cristal, outras, de prata e algumas de plástico barato. Pedia aos seu antigos alunos que despejassem, eles próprios, o seu café. Todos eles escolhiam as taças disponíveis mais bonitas e dispendiosas.
Quando voltavam a sentar-se, o professor elogiava as taças mais bonitas, mas depois salientava o facto de que o que todos queriam realmente era o café.
Independente da taça o café era o mesmo para todos. Dizia-lhes que o status social, a moda, a imagem, os bens que possuem e a aceitação social eram como as taças, então, a vida era o café. Porque tentamos tão arduamente bebê-lo por uma taça bonita, quando o que queremos realmente é um bom café? Se querem uma vida sem stresse, aconselhava o mestre, ignorem a taça e limitem-se a desfrutar do café."
Com esta pequena história depreendemos que temos que aprender a nos desapegar das nossas taças. Eu posso pertencer a uma classe social alta, ter todos os tipos de bens, ter atingido o maior sucesso profissional e, mesmo assim, viver profundamente infeliz, porque tudo isso não é viver.
Mas o que é afinal o desapego?
Desapego é o desprendimento de um ou mais elementos, bens, ideias, pessoas ou acontecimentos. Quando nos desapegamos, não criamos expectativas que emocionalmente, ultrapassam os limites do que é saudável para a nossa mente e para o nosso corpo.
Existem vários tipo de desapego, o desapego emocional, que consiste no desapego a emoções que podem tornar as pessoas prisioneiras de situações ou relacionamentos tóxicos; o desapego material, que caracteriza-se pelo desapego a bens, criando um afastamento da soberba; e o desapego circunstancial, ou seja, o desapego aos acontecimentos, desapego ao passado.
O apego faz-nos viver prisioneiros dos vários elementos, priva a nossa liberdade, o nosso crescimento, a concretização de sonhos. Se pensarmos bem, é o apego que leva à resistência à mudança, é o apego que nos leva ao comodismo, à acomodação. A pessoa desapegada vive livre, entusiasma-se com a mudança, não tem receio de novas experiências, tem uma maior diversidade de vivências, VIVE!
Quando me sentia profundamente infeliz com a perda dos meus bebés, passei a ser um pouco consumista compulsiva, comprava joias, malas de marcas de luxo, como isso fosse compensar as minhas perdas...pensava que o apego a bens mateiras poderia me trazer felicidade. Até que me apercebi que nada daquilo fazia sentido, aquilo não me trazia mais felicidade, era uma máscara que estava a usar, estes bens não me faziam feliz, não me faziam sentir melhor, eram adereços. Hoje em dia ainda tenho alguns desse bens, mas praticamente não uso joias e uso sempre a mesma mala, aquela que é mais prática para mim.
Outra forma muito comum de apego é aos nossos filhos. Quando somos mães entramos numa bolha de amor, descobrimos o amor na sua forma mais pura e caímos nas amarras deste amor. Muitas mães, após o parto, vivem focadas nos seus filhos e anulam-se como mulheres e seres humanos. Contudo é importante perceber que apesar dos nossos filhos serem a nossa prioridade, Eu também tenho que ser a minha prioridade. Se anulo a minha individualidade, nunca irei estar bem para cuidar dos meus filhos. Temos que interiorizar que o papel de mãe, é estar sempre lá para o que os nossos filhos necessitarem, é um processo de orientação, amor e aprendizagem, mas temos que saber libertar as amarras, porque os filhos não são nossos, são do mundo!
Devemos ainda nos desapegar do elogio e da crítica.
Vivemos muita da nossa existência em busca do elogio, da aprovação do outro. Claro que é bom receber elogios e devemos sempre ser gratos por eles. Contudo, eles não nos podem impressionar, encantar ou dominar a nossa mente. O elogio não nos define e é fugaz. Devemos sempre trabalhar para sermos a melhor versão de nós mesmos, porque assim somos, assim o queremos, não em busca de admiração ou aprovação.
Por outro lado temos que saber nos desapegar de insultos ou críticas. Na maioria das vezes um insulto ou uma crítica é fruto de um julgamento inapropriado da outra pessoa, e o problema reside, na maioria das vezes, nessa pessoa e não em nós.
Não podemos deixar que um insulto nos abata, não podemos assumir que somos esse insulto, mesmo que esse insulto ou crítica venha de uma ação nossa que reconhecemos como incorreta. A conduta menos positiva que tive em determinada altura não me define, não diz quem eu sou, deve apenas ser encarada como uma aprendizagem e crescimento interior.
Existe um conto do oriente com o nome "Sê como um morto" que nos conta a história de um mestre que pediu ao seu discípulo para ir ao cemitério e gritar aos mortos todo o tipo de elogios e ver a reação, depois pediu para repetir o mesmo, mas gritando todo o o tipo de ofensas aos mortos. O discípulo assim o fez. Ao voltar o mestre perguntou:
- O que disseram os mortos aos elogios?
- Nada disseram. - respondeu o discípulo.
- E o que disseram os mortos às ofensas? - perguntou o mestre.
- Nada disseram. - repetiu o discípulo.
E o mestre conclui:
- Assim deves ser tu: indiferente como um morto aos elogios e aos insultos.
Ou seja, assim devemos ser nós, desapegados do efeito de um elogio e de um insulto, não nos deixarmos deslumbrar pelo elogio e não permitindo que o insulto gere em nós rancor ou nos abata.
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